Foto: Divulgação Petrobras/Valeria Arnez
Transição Energética

SETOR DE ÓLEO E GÁS INVESTE EM PROJETOS DE DESCARBONIZAÇÃO

Um terço dos recursos aplicados em tecnologias vai para redução de emissões e avanço de fontes renováveis, como biocombustíveis e hidrogênio verde

Redação
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Cerca de um terço dos investimentos em pesquisa e inovação do setor de petróleo e gás no Brasil são destinados ao desenvolvimento de energias renováveis e descarbonização, segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). Os recursos são utilizados para o desenvolvimento de tecnologias de captura de carbono , além de biocombustíveis, hidrogênio verde e eólicas offshore, com o qual o setor de petróleo compartilha experiências sobre projetos de plataformas marítimas.

Por lei, está estabelecida nos contratos de exploração e produção de petróleo e gás natural a cláusula que determina que as empresas petrolíferas devem realizar investimentos equivalentes a 1% da receita bruta em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Desde 1998, quando foram estabelecidas as primeiras regulamentações sobre as obrigações em PD&I, foram investidos mais de R$ 29 bilhões nessas iniciativas.

Magda Chambriard, presidente da Petrobras: país precisa continuar a explorar novas fronteiras de exploração de petróleo
Foto: Rafa Pereira/Petrobras

Além do financiamento a projetos voltados à transição energética, o setor é visto como estratégico para garantir a segurança no abastecimento de energia pelas próximas décadas. No evento Rio Oil & Gas, na semana passada, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que a empresa e o país precisam continuar a explorar novas fronteiras e repor reservas para desenvolver o setor trazendo benefícios para o mercado e a sociedade.

A executiva lembrou o fato de o país estar na vanguarda da transição por ter uma matriz energética altamente renovável. “Entendemos a importância dessa energia (petróleo) para a economia, o país. Precisamos e não há contradição em explorar novas áreas. Esse ritmo que buscamos não é conflitante com a transição energética. É também mais uma fonte para garantir emprego e renda para o Brasil”, destacou a executiva, que reforçou o compromisso da empresa com a neutralidade das emissões de carbono até 2050.

Especialistas destacam importância do setor para segurança energética

Para o ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, embora os avanços tecnológicos para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis sejam significativos, essas fontes despacháveis exercem papel importante na matriz energética por fazer frente às variações de carga das fontes intermitentes, como eólica e solar fotovoltaica. Por isso, ele acredita que os combustíveis fósseis estarão presentes pelas próximas décadas na matriz de geração elétrica, não só do Brasil, mas do mundo.

“Existe uma consciência global de que isso precisa ser alterado, mas não é algo que se faz em alguns anos. Todas as grandes transições energéticas que tivemos ao longo da história foram contadas em décadas”, comenta Ciocchi. “Esse é um problema global em que a solução só vem de forma também global. É uma longa jornada em que devemos estar preparados e fazendo aquilo que pode e deve ser feito.”

Armando Araujo, ex-secretário Nacional de Energia do Ministério da Infraestrutura e especialista com mais de 50 anos no setor energético, observa que nas últimas duas décadas, quando começaram a crescer os investimentos na geração eólica e solar, queimou-se mais combustível  para gerar eletricidade em usinas térmicas do que nas duas décadas anteriores. “A intermitência das fontes eólica e solar fez com que usássemos mais termelétricas do que antes. Se continuar botando só solar e eólica no sistema, teremos que contar com mais termelétricas, ou, então, hidrelétricas”, pontua Araujo.

Ele aponta ainda outros desafios no processo de transição energética no país, especialmente a falta de planejamento e os leilões que privilegiam o custo das fontes e não a efetiva segurança no abastecimento. “No fim, ganha quem oferece o menor preço de curto prazo, independente de transmissão, independente de reserva, independente da qualidade do fornecimento. Por isso, a toda hora estamos com alto risco”, afirma.

Tecnologias de armazenamento e captura de carbono

Enquanto as projeções de vida útil do setor de petróleo e gás se mantêm para as próximas décadas, as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCUS) são consideradas opções importantes para que o setor atinja metas de redução de emissões até 2050, inclusive com a remoção do CO2 que já está na atmosfera. 

De acordo com dados da Agência Internacional da Energia (AIE), há 35 instalações de CCUS em operações no mundo com uma capacidade de captura de 45 megatoneladas de CO2 por ano. No entanto, para o cenário de neutralidade de emissões construído pela agência internacional, estima-se que a capacidade de captura deve aumentar para 1,2 gigatoneladas de CO2 por ano em 2030 e para 6,2 Gt CO2/ano em 2050.

No Brasil, a Petrobras possui o maior programa de captura, uso e armazenamento de carbono em operação no mundo e o primeiro a ser implementado em águas ultra profundas. Localizados nos campos do Pré-sal, os sistemas têm capacidade de processar 7 Mt CO2/ano, que representaram 9,3% da capacidade mundial total em 2022. Entre 2008, quando ocorreu a primeira implantação de um sistema de CCUS pela empresa, e setembro de 2021, a petrolífera já reinjetou 28,1 megatoneladas de CO2, e espera chegar até as 80 megatoneladas no próximo ano.

Segundo relatório do IBP divulgado em maio deste ano, a difusão das tecnologias de CCUS precisa superar desafios relacionados a riscos econômicos desses projetos. “O marco regulatório dessas atividades deve fornecer condições para permitir uma organização da indústria com estruturas de governança capazes de reduzir os riscos técnicos e econômicos para as empresas”, defende a entidade. 

O IBP propõe, para isso, a organização de clusters entre empresas geograficamente próximas para viabilizar a introdução dessas tecnologias. Esse formato permitiria a execução de projetos conjuntos, com compartilhamento de infraestrutura e redução dos riscos e dos custos via ganhos de escala.

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