Iluministas

TALITA E ARMANDO: MATRIZ IDEAL PRECISA DE INOVAÇÃO E GOVERNANÇA

Especialistas em energia alertam para a necessidade de um planejamento mais diretivo para o setor elétrico, sem decisões políticas

Redação
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No quarto episódio do videocast “Iluministas”, conduzido pelo jornalista Roberto Rockmann, participaram Talita Porto, ex-conselheira da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Armando Araújo, ex-chefe de operação da Eletrobras, Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel, e Juliana Melcop, advogada especializada em energia elétrica . O grupo debateu o conceito de matriz energética ideal, analisando desafios técnicos, sustentabilidade e o futuro do setor elétrico no Brasil.  

Talita Porto abriu a discussão destacando que alcançar uma matriz 100% renovável é teoricamente possível, mas depende de avanços tecnológicos e investimentos em infraestrutura. “Existem estudos que já comprovaram, inclusive, que a operação é viável. Isso, em teoria, agora tem que ser colocado em prática”, explicou. 

"Devido à intermitência, há uma rampa enorme e é preciso ter energia com capacidade para absorver a demanda rapidamente".

Armando Araújo

Ex-chefe de operação da Eletrobras

Armando Araújo ponderou sobre as limitações das fontes renováveis, como solar e eólica, devido à sua intermitência. “Estamos gastando mais combustível ao operar mais térmicas do que antes. Devido à intermitência, há uma rampa enorme e é preciso ter energia com capacidade para absorver a demanda rapidamente”, afirmou. Ele defendeu que o Brasil deve explorar soluções híbridas, como hidrelétricas reversíveis e nucleares.

Edvaldo Santana complementou a discussão ao destacar que a busca por uma matriz ideal não deve se limitar às renováveis. “Estamos no caminho certo. Não fossem os problemas de subsídios, que acabam afetando os custos e acelerando mais do que o necessário as fontes intermitentes, estaríamos em um caminho ainda melhor. Obtivemos sucesso na diversificação da matriz, mas talvez tenhamos acelerado um pouco o processo, com custos muito elevados”, afirmou, ressaltando a importância de equilibrar eficiência e sustentabilidade.

Outro tema debatido foi o papel da descentralização e da geração distribuída, que vem crescendo exponencialmente no Brasil. “O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem lançado mão, no período do final da tarde, de 30 GW para suprir a rampa de demanda. Por conta disso, a flexibilidade é um requisito para atender a essa necessidade”, apontou Talita, alertando para os impactos desse crescimento nos preços e na confiabilidade do sistema.

"Não temos mais novos reservatórios de hidrelétricas, e nós tínhamos um modelo regulatório voltado para a complementariedade hidrotérmica. Ao transformarmos o modelo, não adaptamos essa regulação em termos de preços e planejamento".

Juliana Melcop

Sócia da área de Energia do Veirano Advogados

Juliana Melcop destacou a necessidade de políticas públicas claras para lidar com os desafios de infraestrutura. “Não temos mais novos reservatórios de hidrelétricas, e nós tínhamos um modelo regulatório voltado para a complementariedade hidrotérmica. Ao transformarmos o modelo, não adaptamos essa regulação em termos de preços e planejamento”, observou.  

O hidrogênio verde também foi discutido como uma solução potencial para diversificar a matriz energética. No entanto, Armando foi crítico: “Hidrogênio como reserva de energia não é viável. Gastam-se 100 kWh para produzir o hidrogênio, que irá gerar na ponta apenas 15 kWh. Ou seja, perdem-se 85% da energia produzida”, explicou. 

O episódio reforçou que, para construir uma matriz sustentável e resiliente, o Brasil precisa de uma abordagem estratégica que contemple inovação, diversificação e governança eficiente. Os especialistas convergiram na necessidade de um planejamento mais diretivo para o setor elétrico. “Talvez tenha chegado a hora de nós migrarmos para o planejamento determinativo e seguir ao pé da letra o que diz o operador do sistema, e não as decisões políticas”, sugeriu Edvaldo.

O videocast “Iluministas” é uma parceria VDE – Valor da Energia e do Instituto Pensar Energia. Reforça a importância de debates sobre energia no Brasil, unindo perspectivas que buscam transformar os desafios do setor em oportunidades para um sistema mais eficiente e sustentável.

Confira o episódio completo com Talita Porto e Armando Araújo:

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