UTE Termopernambuco
Foto: Neoenergia/Divulgação
Consumo

ONS ACENDE ALERTA E PEDE MEDIDAS PREVENTIVAS ADICIONAIS

Entidade solicita acionamento de térmicas mais cedo que o previsto para garantir abastecimento de energia elétrica até fim do período seco.

REDAÇÃO
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A baixa incidência de chuvas na região Norte e a alta demanda nos horários de pico de consumo são fatores que estão preocupando os técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Em nota divulgada nesta semana, a entidade reforçou a necessidade de medidas operativas adicionais de caráter preventivo, a fim de evitar que a situação se torne crítica ao fim do período seco, entre os meses de outubro e novembro.

As ações, que constam em pedido feito pelo operador e apresentadas na última reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), são as seguintes:

  • Minimizar o despacho das usinas hidrelétricas do subsistema Norte, para preservação dos recursos hídricos da região, já com vistas ao atendimento à ponta de carga nos meses de outubro e novembro;
  • A maximização da disponibilidade de potência ao final do período seco, o que considera o adiamento de manutenções, quando possível, e a antecipação do retorno de ativos indisponíveis;
  • Acionamento de usinas termoelétricas a GNL com despacho antecipado, como a antecipação para despacho da UTE Termopernambuco, já a partir de outubro de 2024;
  • A ampliação do uso de ferramentas como os Mecanismos de Resposta da Demanda.

Nos últimos meses, o ONS tem reportado que a afluência dos reservatórios das usinas hidrelétricas está abaixo da chamada Média de Longo Termo (MLT), que considera um histórico de 94 anos de medições. Apesar da situação crítica, todas as medidas acima são para evitar um agravamento de cenário, mas o risco de desabastecimento de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) ainda está descartado.

Especialistas avaliam que medidas são importantes para o Sistema

As medidas trazidas pelo operador, segundo especialistas consultados pelo VDE, fazem bastante sentido, especialmente no contexto de ciclos hidrológicos cada vez mais irregulares e pela necessidade de ter opções que possam substituir fontes intermitentes, como eólicas e solares.

“A preocupação é que possa faltar potência (capacidade de atender a demanda elétrica instantânea) e não que possa faltar energia (capacidade de atender a demanda elétrica média), destaca o ex-diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Jerson Kelman. Ele também vê com bons olhos o esforço por medidas que impactem na demanda.

Jerson Kelman

"Cada nova unidade de geração eólica ou solar acrescenta capacidade energética ao sistema, mas não potência. Apenas as usinas hidro e termelétricas o fazem”

Jerson Kelman

Ex-diretor-geral da Aneel

Para Diogo Romeiro, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV (FGV-CERI), o cenário atual reflete o momento que o setor energético brasileiro, em especial o elétrico, está atravessando.

Diogo Romeiro

“A gente está vivendo uma transição de modelo. Nossa preocupação antes era sobre uma restrição de energia, se havia água nos reservatórios e como você poderia atender administrando essa reserva hídrica. Hoje estamos em um modelo em que atender a ponta da demanda começa a ser desafiador”.

Diogo Romeiro

Pesquisador CERI-FGV

Romeiro lembrou que a situação atual é bastante diferente daquela vivida em 2021, quando especialistas apontaram para o risco de falta de energia decorrentes de uma severa crise hídrica, episódio que o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou como “grave problema de planejamento”.

“É totalmente diferente de 2021. Hoje, o alerta é a respeito de determinadas horas críticas, para alguns dias críticos, em que você possa ter uma geração eólica menor, uma demanda um pouco maior”, destaca. Em 2021, por outro lado, os riscos foram de capacidade.

Ainda segundo o pesquisador, “a novidade é que esse problema, ao que tudo indica, agora vai ser recorrente.”

Para o consultor e ex-diretor-geral do ONS Hermes Chipp, a hidrologia não está favorável e não caminha para um cenário positivo. “A expectativa é que não seja um período úmido como foi no ano passado, e aí cabe ao ONS tomar decisões preventivas. O pior dos mundos é ficar economizando apenas esperando a chuva chegar e ela não vir”, avalia.

"O pior dos mundos é ficar economizando apenas esperando a chuva chegar e ela não vir."

Hermes Chipp

Ex-diretor-geral do ONS

Mesmo com os órgãos oficiais descartando os riscos de desabastecimento no momento, Chipp acredita que o operador já deve estar atento a todas as condições, inclusive de eventuais pioras na hidrologia dos reservatórios e tomando as medidas cabíveis. Não por acaso, um dos pedidos do operador foi pelo despacho antecipado da usina UTE Termopernambuco, para o último trimestre de 2024.

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