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ESPECIALISTAS AVALIAM POSSÍVEL RETORNO DO HORÁRIO DE VERÃO

Ex-diretores do ONS consultados pelo VDE comentam sobre prós e contras da medida, que pode ser implementada após as eleições

Redação
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O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão presidido pelo Ministério de Minas e Energia, recomendou na semana passada o retorno do horário de verão como medida de contingência para atendimento do setor elétrico. A ideia é otimizar e garantir o suprimento de energia para a sociedade em um momento de estiagem severa e demanda elevada em função das temperaturas acima da média. 

Apesar da indicação do CMSE, o governo federal ainda não bateu o martelo sobre o retorno do horário de verão. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, descartou a possibilidade de crise energética este ano e a implementação do horário de verão segue em avaliação no governo. 

“Não temos chance de crise energética este ano, mas devemos cuidar para que não tenhamos nenhum evento pontual em especial nos horários de ponta. A nossa missão é equilibrar segurança energética com modicidade tarifária, ou seja, menores tarifas para o consumidor. Se energia é vida, energia mais barata é sinônimo de renda, emprego e desenvolvimento nacional”, declarou o ministro após a reunião do Comitê. 

Na reunião do CMSE, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou estudo que aponta que a aplicação do horário de verão, em cenários de afluências críticas, poderá trazer uma redução de até 2,9% da demanda máxima. A medida, segundo o ONS, pode trazer uma economia no custo da operação em torno de R$ 400 milhões entre os meses de outubro e fevereiro. 

“Mesmo tendo uma economia de energia, essa economia não é a salvadora da pátria e não muda significativamente o cenário da energia”

Luiz Carlos Ciocchi

Ex-diretor geral do ONS (mandato: 2020 a 2024)

Os estudos apresentados pelo ONS indicam ainda que a adoção da medida poderá trazer redução na demanda máxima noturna tanto em dias úteis, como aos finais de semana, em quase todas as condições de temperatura. “O horário de verão alivia o efeito da rampa da carga entre 18h e 19h, além de adiar o horário de ponta em até duas horas, permitindo que a compensação pela saída da MMGD (mini e micro geração distribuída) e da geração solar possa ser feita de forma mais alongada”, afirmou o órgão em nota à imprensa. 

Rampa de carga é um fenômeno físico da eletricidade que ocorre quando ocorre uma elevação súbita, rápida e ostensiva de gasto de energia e que aumenta a possibilidade de ocorrer um apagão elétrico.

Especialistas consultados pelo VDE veem prós e contras no possível retorno do horário de verão. Na avaliação do consultor Luiz Carlos Ciocchi, ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), a efetividade do horário de verão é pouca. “Mesmo tendo uma economia de energia, essa economia não é a salvadora da pátria e não muda significativamente o cenário da energia”, destaca.

“O grande ganho do horário de verão do setor elétrico hoje é a redução desse pico de demanda na hora da ponta”

Hermes Chipp

Ex-diretor do ONS (mandato: 2005 a 2016)

Além disso, complementa Ciocchi, a medida traz benefícios e malefícios a depender dos setores e até gostos pessoais. Segundo ele, o segmento de lazer, que engloba, turismo e bares, defende a medida por aumentar a arrecadação. Já o setor de transportes e as escolas tendem a ser contrários à medida, por exigir adaptação de agendas e ritmo biológico. 

“É uma decisão que deveria ser tomada independente do fator de economia de energia elétrica e estar muito mais alinhada à cultura dos países, como a gente vê hoje na Europa, em que o horário de verão já está bastante consolidado”, acrescenta Ciocchi. “No Brasil, retornar a esse assunto todo ano causa uma certa ansiedade. Todo ano a gente está fazendo estudos e fazendo cálculos, e vendo se economiza mais aqui ou mais acolá. Enfim, não vejo isso como uma prática sustentável.”

Já os ex-diretores do ONS Hermes Chipp e Luiz Eduardo Barata, defendem que a retomada deveria ser iniciada ainda neste ano, após as eleições. Para Chipp, o benefício do horário de verão para o setor elétrico é o deslocamento da demanda na hora de ponta. “O grande ganho do horário de verão do setor elétrico hoje é a redução desse pico de demanda na hora da ponta. Porque o horário de verão não é aplicado para economizar energia”, destaca. “Então é uma vantagem enorme para a estrutura elétrica. Neste momento, nem se fala, porque é preciso reduzir esse valor de ponta para reduzir o custo da operação.” 

“Para os consumidores, sob o aspecto da conta de luz e da economia, o horário de verão é positivo porque pode reduzir o volume de geração térmica em uma primavera seca”

Luiz Eduardo Barata

Ex-diretor do ONS (mandato: 2016 a 2020)

Chipp também acredita que o horário de verão nunca deveria ter acabado e, para ele, sua retomada deveria ser imediata. “Nunca deveria ter acabado, na minha visão. Eu aplicaria o horário de verão já. (A aplicação) não é demorada. Agora, como tem eleição, é muito adequado você aplicar depois das eleições”, diz. 

Luiz Eduardo Barata avalia que a economia realizada durante o período é um dos principais ganhos.  “Para os consumidores, sob o aspecto da conta de luz e da economia, o horário de verão é positivo porque pode reduzir o volume de geração térmica em uma primavera seca. A geração térmica aumenta o custo da energia”, afirma. “Por isso, defendo tanto o horário de verão quanto a resposta da demanda para reduzir a geração térmica. Números do ONS apontam economia de R$ 400 milhões com o horário de verão. Embora pequena, essa redução nos custos é positiva”, declara Barata ao VDE. 

Barata também considera que a implementação deveria ser realizada ainda neste ano. “Embora antigamente o planejamento do horário de verão fosse mais bem organizado, ainda sim é possível iniciar no começo de novembro, após o período eleitoral. Afinal, qualquer economia é bem-vinda, ainda mais quando se pensa em milhões de pessoas que precisam escolher se pagam a conta de luz ou compram comida”, finalizou.

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