PESQUISADORES ASSINAM MANIFESTO CONTRA HORÁRIO DE VERÃO
Em documento, baseado em evidências de sociedades científicas internacionais, especialistas afirmam que medida traz prejuízos à saúde das pessoas
Vinte e seis cientistas e especialistas em cronobiologia – ciência que estuda os ritmos e fenômenos biológicos – de universidades e instituições de pesquisa brasileiras assinaram no último dia 26 de setembro manifesto contra a adoção do horário de verão pelo governo. Segundo o texto, a medida traz prejuízos à qualidade de vida, em especial do sono, das pessoas. A visão está alinhada com evidências de sociedades científicas internacionais, que apoiam a eliminação da prática ao redor do mundo.
O manifesto cita ainda um estudo feito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com 12.467 voluntários no Brasil mostrando que mais de 45% da população estudada apresentou desconforto relacionado ao horário de verão.
Os especialistas destacam que, assim como no Brasil, há vários estudos científicos apontando que os malefícios à saúde provocados por essa mudança superam os supostos ganhos econômicos esperados. Segundo eles, ao longo de milhares de anos, os ritmos biológicos humanos estiveram alinhados ao ciclo natural de luz e escuridão, regulando funções essenciais como sono, apetite e funções cardiorrespiratórias, desempenho cognitivo e humor.
“Com o avanço da vida urbana e o uso de luzes artificiais, especialmente de dispositivos eletrônicos, esse alinhamento natural tem sido prejudicado. A introdução do horário de verão agrava ainda mais essa dessincronia entre o ritmo biológico e os horários social e ambiental”, destaca o manifesto.
Entre os efeitos negativos da medida, estão distúrbios do sono, aumento de eventos cardiovasculares adversos e transtornos mentais e cognitivos. Há ainda um crescimento no número de acidentes de trânsito e no local de trabalho nos primeiros dias após a mudança. “Além disso, o impacto negativo dessa dessincronia não é revertido facilmente, podendo levar a problemas crônicos de saúde”, complementa o texto.
Governo avalia retorno do horário de verão
Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou que o governo está avaliando o retorno do horário de verão. Segundo ele, a medida pode ser uma forma de reduzir o consumo de energia elétrica, especialmente durante os momentos de pico.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomenda o retorno do horário de verão, que contribuiria para reduzir o acionamento das termelétricas, o que representa uma conta de luz mais alta para os consumidores. Na semana passada, o VDE publicou conteúdo em que ouviu ex-diretores gerais do ONS que comentaram sobre a efetividade da medida na economia.
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Conheça o histórico do horário de verão
Criado em 3 de outubro de 1931, durante o governo de Getúlio Vargas, o horário de verão sempre foi visto por diversos segmentos econômicos como uma medida capaz de ajudar na economia no uso de eletricidade e também financeira.
Na época, o principal objetivo do horário de verão era proporcionar o melhor aproveitamento da luz natural em relação à artificial ao adiantar os relógios em uma hora. Com isso, era possível reduzir a concentração de consumo no horário entre 18h e 21h, aumentando a permanência da curva em patamares mais baixos e menor carregamento nas linhas de transmissão, nas subestações e nos sistemas de distribuição.
A partir de 1967, o horário de verão foi suspenso retornando 18 anos depois, no verão de 1985/1986, como uma das medidas de racionamento no uso de eletricidade causado pelo baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Desde então, o horário de verão passou a ser adotado anualmente, com diferenças somente sobre estados abarcados e período de duração.
Em 1988, os estados do Acre, Amapá, Pará, Roraima, Rondônia não foram incluídos no decreto por especialistas avaliarem que não haveria grande benefício para essas unidades federativas.
A regulamentação do horário de verão só ocorreu em 2008 durante o segundo governo Lula. Em 2018, após solicitação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o início do horário de verão foi postergado do terceiro domingo do mês de outubro para o primeiro domingo do mês de novembro. O intuito era evitar a mudança no período entre o primeiro e o segundo turnos de eleições.
Em abril de 2019, a medida foi extinta por meio de decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi tomada a partir de recomendação do Ministério de Minas e Energia na época, que apontou pouca efetividade na economia de energia.
Surgimento do horário de verão no mundo
O horário de verão é adotado por vários países e regiões do mundo e surgiu pela ideia do político e cientista norte-americano Benjamim Franklin, em 1784. Foi primeiramente adotado durante a 1ª Guerra Mundial, pela Alemanha, que precisava economizar gastos com carvão mineral.