Segurança Energética

REALIDADE IGUAL À SEGURANÇA

Fernando Luiz Zancan e Enio Fonseca
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Nesses tempos difíceis, a estratégia de não colocar todos os ovos em uma única cesta deve ser uma máxima. A busca pela diversidade precisa ser o foco principal. Em relação à questão energética, onde atingimos quase 90% de energia a carbono zero (renováveis e nuclear), precisamos dar prioridade à diversidade. É imprescindível buscar uma reserva de energia segura, um backup que nos proteja da falta de chuvas, da ausência de ventos ou dos dias sem sol.

No campo renovável, o Brasil já é um exemplo para o mundo, sendo cerca de três vezes mais limpo que a comunidade europeia, o principal indutor das políticas climáticas. É preciso agora olhar para a manutenção de um parque térmico, despachável 24 horas por dia e 7 dias por semana. Em 2024, enfrentamos novamente uma crise hídrica, o que comprova que estamos vivendo um novo normal: a era dos extremos, com muita chuva e muita seca cada vez mais frequentes. Infelizmente abrimos mão da capacidade de reservação de água. Ao aumentar a demanda de energia elétrica com os mesmos reservatórios da década de 80 perdemos a capacidade de armazenamento de energia. Adicionamos cada vez mais energias, renováveis variáveis e hidráulicas a fio de água, não estocáveis.

Essas alterações causadas pelas mudanças climáticas precisam ser bem analisadas. As séries sintéticas que preveem o futuro podem ser inúteis. De forma geral, ano após ano, o planeta está aquecendo. Com mais calor e energia no sistema, somadas à evaporação das águas, teremos maior formação de nuvens, diminuindo a eficiência da geração solar, mudando o padrão de ventos e a quantidade de combustível para as usinas hidráulicas. Por isso, a geração de energia firme e despachável será necessária como garantia para a segurança energética de todos nós.

A importância dessa reserva ficou bem evidente em episódios recentes. Em 2021, foi preciso despachar todas as térmicas – desde as de menor custo, como as de carvão mineral até aquelas de alto custo, que são a óleo combustível – para garantir a segurança do sistema. Neste ano, em plena região Nordeste, terra das renováveis (eólica e solar), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já despachou a Usina térmica a carvão de Pecém, no Ceará. Na região Sul, as térmicas de carvão mais baratas já estão despachadas.

Nesse momento, o Ministério de Minas e Energia orienta os agentes a despachar o máximo de térmicas para garantir a segurança eletro energética do Brasil. A Aneel já avisou que haverá despacho das térmicas. Aliás, esse sistema de informação da Aneel deveria ser revisto, pois passa uma falsa ideia à sociedade de que as térmicas são caras. E isso não é verdade. Quem tem aumentado o custo ao consumidor são as fontes renováveis variáveis, subsidiadas via Conta de Desenvolvimento Energético, pagas pelo consumidor (7,54% da conta hoje). Infelizmente, vemos “especialistas de clima” falar que, em 2040, seremos 100% renováveis na geração energia elétrica, enquanto algumas ONGs insistem em apresentar planos climáticos no mesmo sentido. Onde esse pessoal vive? Nem na Europa, indutora das políticas climáticas, isso é consenso.

A verdade é que o Brasil é privilegiado por ter todas as matrizes energéticas disponíveis, mas, ao mesmo tempo, não está em condições de desperdiçar nenhuma delas. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil precisará, até 2050, multiplicar por 3,3 o consumo energia elétrica para chegar a patamares de países desenvolvidos. Precisamos estruturar um Programa de Manejo de Carbono (Carbon Management Energy Shot), usando todas as tecnologias disponíveis. Estamos falando de captura e armazenamento de carbono (CCUS), de remoção do CO2 do ar, captura direta de CO2 do ar (DAC), uso de biomassa com CCUS (BECCS) e também consórcio Fóssil x Biomassa (FBECCS).

Grandes potências, como os Estados Unidos e a China, estão investindo pesado nesses projetos. Precisamos de pragmatismo e seriedade intelectual nessas discussões. A solução para a segurança alimentar, energética e climática não é acabar com os fósseis, mas sim com suas emissões. E essa transição ecológica e tecnológica levará décadas. O Congresso Nacional está avançando em uma legislação para regular a indústria da captura e armazenamento do carbono. Esse assunto, porém, ainda é pouco discutido na sociedade. Temos que ter celeridade nesse processo e o Brasil, em nome da palavra segurança energética, precisa da diversidade de todas as fontes.

Fernando Luiz Zancan Presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS)

Enio Fonseca Engenheiro e executivo com especialização em gestão socioambiental

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