ENERGIA BRASILEIRA IMPULSIONA LIDERANÇA GLOBAL, DIZ EXECUTIVO
Frederico Miranda, da Eneva, afirma que país pode ser líder global no setor de energia e que segmento de óleo e gás pode contribuir com redução das emissões
Frederico Miranda, diretor de Exploração, Reservatório e Tecnologias de Baixo Carbono da Eneva, acredita que o Brasil tem todas as condições para se consolidar como um líder global no setor de energia. Em entrevista exclusiva ao VDE, ele destacou que o país já é um exemplo mundial, mas precisa evoluir nos investimentos para garantir sua segurança energética, especialmente nos sistemas isolados da região Norte e na acessibilidade à eletricidade.
“Temos um grande desafio pela frente: aumentar os investimentos para assegurar que todos tenham acesso à energia elétrica, sobretudo em áreas remotas do país”, enfatiza Miranda. Com mais de 18 anos de experiência no setor, o executivo se destaca por sua atuação inovadora na indústria de gás natural, contribuindo para o sucesso de projetos que integram o conceito reservoir-to-wire (R2W) e a verticalização do gas-to-power. Ele está à frente de iniciativas que visam aumentar a geração de energia ao mesmo tempo em que implementam a captura de carbono, alinhando o setor à transição energética.
Miranda defende a exploração de petróleo na Margem Equatorial como uma estratégia crucial para garantir a autossuficiência do Brasil em petróleo. Ele alerta que, à medida que as reservas de óleo e gás do pré-sal se aproximam de seu esgotamento, previsto que ocorra por volta de 2030, o país precisa abrir novas frentes de produção. “Se não entrarmos em novas regiões produtoras, corremos o risco de nos tornarmos importadores de petróleo no futuro”, alerta o executivo, que também ressalta que as atividades ilegais e não regulamentadas, e não a exploração controlada, são as verdadeiras responsáveis por danos ambientais.
À frente da diretoria de Tecnologias de Baixo Carbono na Eneva, Miranda coordena projetos que buscam substituir fontes de alta emissão por soluções mais limpas, como usinas de ciclo combinado, energia solar e o uso de gás natural liquefeito (GNL) no lugar do diesel em transportes pesados. Segundo ele, o setor de óleo e gás tem um papel importante a desempenhar na redução das emissões de carbono no Brasil. “Conhecemos profundamente o subsolo, temos a tecnologia e a capacidade técnica para implementar projetos de captura, armazenamento e uso de dióxido de carbono (CCUS)”, conclui Miranda.
A visão de Miranda reforça a necessidade de o Brasil olhar para o futuro do setor de energia com uma abordagem estratégica, equilibrando o desenvolvimento econômico com soluções de baixo impacto ambiental.
Confira a entrevista na íntegra:
1 – Quase sempre que o tema transição energética é abordado fora do setor, há um costume de imaginar que isso é algo para o futuro. É loucura dizer que o Brasil já fez sua transição energética? Por quê?
Acredito que não. O Brasil começou sua transição nos anos 1970, quando optou por dois feitos marcantes: a construção da Usina de Itaipu e a criação do Proálcool, por conta da crise mundial do petróleo. As sementes plantadas há 50 anos fazem com que o Brasil tenha hoje a matriz energética mais limpa dos países do G20 e a sexta mais limpa do mundo. Neste indicador, o país fica atrás apenas da Suécia, Noruega, Finlândia, Suíça e França.
Hoje, o Brasil é um exemplo para o mundo em termos de energia e deve se posicionar como líder global neste setor. Com essa postura vamos conseguir atrair mais investimentos e fazer com que mais indústrias se estabeleçam no país. Isso porque contamos com um sistema interligado, permitindo que fiquem conectadas ao grid nacional com sua eletricidade oriunda de até 90% de fontes renováveis.
Mas ainda temos um grande desafio: evoluir nos investimentos para garantir a segurança energética nacional, especialmente nos sistemas isolados da região Norte do país, bem como em relação à acessibilidade à eletricidade.
É importante que as pessoas compreendam que as fontes renováveis, já expressivas e crescentes no Brasil, são intermitentes, dependem de chuva, sol e vento. Nesse contexto, é fundamental acompanharmos o crescimento dessas fontes com outras que sejam despacháveis, ou seja, controladas pelo homem. Neste caso, as térmicas a gás natural são hoje a tecnologia com menores emissões, mais confiável e utilizada, garantindo a segurança energética nacional e evitando que tenhamos apagões.
“Se não entrar em outra região produtora, podemos nos deparar com um cenário em que seremos obrigados a importar petróleo”
Frederico Miranda
Diretor de Exploração, Reservatório e Tecnologias de Baixo Carbono da Eneva2 – Por que projetos estratégicos para o Brasil, como a exploração da Margem Equatorial, sofrem tanta dificuldade para avançar?
A exploração da Margem Equatorial, na verdade, é um trabalho crucial que deve ser feito visando que o Brasil se mantenha autossuficiente em petróleo, uma vez que as reservas de óleo e gás natural do pré-sal, assim como qualquer recurso natural, são finitas e têm o início da sua substituição prevista para, aproximadamente, 2030. Se não entrar em outra região produtora, podemos nos deparar com um cenário em que seremos obrigados a importar petróleo. Não podemos deixar isso acontecer.
O que prejudica o meio ambiente são atividades ilegais e não regulamentadas. Qualquer empreendimento sério segue à risca todos os critérios de licenciamento e compensações ambientais. Normalmente, são casos de sucesso no desenvolvimento socioeconômico das regiões onde implementados. Vide o caso da Eneva no interior do Maranhão, e análogo à Margem Equatorial que será explorada pela Guiana, trazendo bilhões de dólares de investimentos ao país.
É necessário ter um mercado regulado e forte para que evitemos uma crise energética severa que pode gerar efeito em cascata por toda a cadeia de produção brasileira: combustível, logística e produtos.
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3 – Quais são as oportunidades de desenvolvimento que o Brasil está deixando passar com esses atrasos?
Acredito que, ao travar o desenvolvimento, o Brasil se expõe, cada vez mais, à dependência de insumos internacionais – podendo vir a se tornar um importador de petróleo bruto no futuro. Isso já acontece com outros produtos atualmente. O Brasil é um dos poucos países do mundo que detém reservas de urânio e poderíamos explorar esse recurso considerando as novas tecnologias existentes para isso. A geração de hidrogênio verde, por exemplo, poderia ser destinada para consumo local imediato e não importação para Europa.
Outro exemplo: o Brasil, que é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, importa mais de 90% de fertilizantes que utiliza. Apesar disso, existem diversos empreendimentos sendo barrados de avançar, tanto para o potássio quanto para o gás natural.
Ou seja, ao mesmo tempo em que há uma discussão para combater esse tipo de projeto, há uma urgência por energia e comida barata. Precisamos explorar nossos recursos naturais de maneira ambientalmente correta e sustentável, priorizando o desenvolvimento do Brasil para o benefício dos brasileiros.
4 – O futuro do setor é a exploração de baixo carbono?
Sem dúvida a indústria de energia, em especial de óleo e gás, tem muito a contribuir para a redução das emissões. Somos os conhecedores do subsolo, temos tecnologia, capacidade técnica e recursos para implementação de projetos de captura, armazenamento e uso de dióxido de carbono (CO2) conhecidos como CCUS.
O Brasil tem uma vantagem enorme, que é ser o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo. Nossa produção, localizada em grande parte no Sudeste e Centro-Oeste, é onde está, na minha opinião, uma das grandes contribuições do setor. Os projetos de CCUS atrelados a bioenergia (BECCS) nas instalações sucroalcooleiras têm os menores custos comparados com outras iniciativas de remoção permanente de dióxido de carbono.
Estabelecendo parcerias entre os produtores de etanol e as empresas de óleo e gás podemos garantir uma redução robusta nas emissões de CO2 no Brasil. Adicionalmente, existe ainda a sinergia com a produção de biogás no Brasil, que pode complementar o suprimento deste insumo em regiões não atendidas pela nossa precária malha de gasodutos e também ser combinado com GNL, que é importante para nosso desenvolvimento industrial.
De forma geral, ao olharmos para o último relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2022, tivemos 18% das emissões oriundas do setor de energia, sendo que, desse percentual, a geração de eletricidade representa apenas 4%. Por outro lado, 44% das emissões no setor de energia e processos industriais vêm do transporte. Nesse contexto, acredito que a substituição do diesel por GNL no transporte rodoviário pesado do Brasil pode ter uma importante contribuição para a redução das emissões no setor.