Consultor Hermes Chipp
Foto: Fernando Frazão/Agencia Brasil
Consumo

ESPECIALISTAS CRITICAM PROPOSTA DE RESTRIÇÃO DE TERMELÉTRICAS

Para eles, pedido feito pela Abrace ao ONS, que pede soluções alternativas, pode comprometer segurança energética

REDAÇÃO
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O pedido feito pela Abrace Energia ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para considerar soluções alternativas ao despacho de usinas termelétricas foi criticada por especialistas e representantes do setor. Segundo autoridades consultadas pelo Valor da Energia, além desse tipo de decisão obedecer a critérios estritamente técnicos, a proposta pode trazer riscos para a segurança energética do país.

De acordo com o consultor Hermes Chipp, ex-diretor-geral do ONS, esse tipo de pedido é descabido e prejudica a visão de segurança energética de longo prazo, uma vez que aposta apenas na retomada dos níveis dos reservatórios ao fim do período seco. “Você precisa ser conservador. Você não aposta todas as fichas na chuva”, explica.

Segundo ele, é preciso ter equilíbrio no eventual acionamento de térmicas, mas que essa decisão precisa considerar o contexto e critérios dados no cenário. “Quando você despacha térmicas fora da ordem de mérito por questões de segurança, você não vai gastar todas as fichas, e quem espera muito pode pagar um preço maior. Porque pior do que você despachar frequentemente um volume baixo de térmicas e de custo variável menor é você precisar acionar todas na base”.

Já o diretor-presidente da PSR, Luiz Augusto Barroso, avaliou que o pedido da Abrace pode fazer sentido se for uma opção mais barata ao operador, mas ressaltou que o ONS deve lidar com estes e outros tipos de pedidos de forma técnica, buscando cumprir sua missão institucional. “O preço é consequência do processo técnico de despacho, que visa atender a demanda ao menor custo possível ao consumidor. Portanto, o preço será o que tiver que ser, dependendo das decisões operativas”, explicou Barroso.

Hermes Chipp

“Você precisa ser conservador. Você não aposta todas as fichas na chuva”

Hermes Chipp

Ex-diretor-geral do ONS

Entidade faz críticas ao pedido

A Abraget, entidade que representa as usinas termelétricas, lembra que o despacho de geração térmica por razões energéticas é um seguro disponível para o ONS para evitar situações críticas de armazenamento no futuro próximo, ou até mesmo um eventual racionamento, como ocorreram nos anos de 2001, 2014 e 2021/2022. Portanto, segundo a associação, o ONS precisa sempre estar atento para tomar decisões em período hidrológico desfavorável: ou não faz nada e aposta na chuva ou prioriza o despacho de geração termelétrica de forma mais reduzida e econômica, de tal forma a ir preservando os reservatórios. Neste último caso, se não chover, o futuro próximo não será tão crítico.

“A solução indicada ‘oferecer’ Resposta da Demanda é pífia, uma vez que estudos demonstram que a referida oferta atualmente não ultrapassa 100/200 MW dentro de um volume de carga que ultrapassa até os 100.000 MW. Além disso, conceitualmente, uma Resposta da Demanda que implique em corte de carga é um pré-racionamento por definição. Isto indica, por incrível que pareça, que existem opiniões que preferem um pré-racionamento do que um pré-despacho de geração termelétrica.”, explica o diretor presidente da Abraget, Xisto Vieira.

A Abraget também critica a posição da Abrace Energia sobre os impactos no PLD. “Foi também citado o aumento do valor de custo marginal da operação (CMO), e consequentemente do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) de R$ 61,07/MWh para R$111,88/MWh e também a evidente majoração do custo marginal da água, como se isso fosse de responsabilidade de despacho de geração termelétrica. Muito ao contrário, as térmicas são despachadas porque o custo marginal da água está elevado e, portanto, o custo de operar a térmica nesta situação é mais barato do que operar uma hidrelétrica”, ressalta Vieira.

“Por fim, aparentemente há uma crítica aos procedimentos mais do que corretos do ONS: solicitar aos agentes térmicos que deixassem suas usinas de prontidão para um período que se configurava como crítico à frente, para, em seguida, tomar decisões de despacho. Lembramos ainda que estudos profundos feitos pelo ONS sempre indicarão as alternativas de despacho de geração termelétrica, quando necessário, e a equipe do ONS, de notada competência, realiza tais estudos a todo momento”, reforça o diretor presidente da associação.

CEO da Abraget, Xisto Vieira

"Uma Resposta da Demanda que implique em corte de carga é um pré-racionamento por definição"

Xisto Vieira

Diretor Presidente da Abraget

Entenda o caso

Em carta enviada ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Abrace Energia – entidade que representa grandes consumidores do setor elétrico – pediu que fosse evitado o acionamento de usinas termelétricas durante o período seco atual. A solicitação foi feita após carta enviada pelo ONS aos agentes do mercado, solicitando que essas usinas estejam de prontidão para “garantir atendimento eletroenergético em caso de necessidade de despacho para atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN)”.

O comunicado do ONS foi encaminhado no começo de julho, dias após reunião ordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), ocasião em que foi solicitada a comunicação aos agentes termelétricos para que ficassem de prontidão para eventuais necessidades de despacho.

A Abrace Energia, além de pedir cautela para o acionamento de termelétricas a fim de evitar uma disparada no Preço de Liquidação de Diferença (PLD), apresentou sugestões de estratégias alternativas para o enfrentamento do período de menor disponibilidade de hidrelétricas, entre elas a Resposta de Demanda (quando empresas são recompensadas por reduzir o uso em algumas horas no dia) e o produto por Disponibilidade, que aguarda análise pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Procurado pela reportagem, o ONS não se posicionou até o momento.

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