PEDRO LITSEK: TÉRMICAS FAZEM FRENTE À INTERMITÊNCIA DE RENOVÁVEIS
Em entrevista ao VDE, o presidente da empresa Diamante Geração de Energia destaca os desafios para uma transição energética justa e segura
Embora as pesquisas de tecnologias para armazenamento de energia estejam avançadas, ainda não se tem uma solução definitiva para a intermitência de fontes renováveis, o que obriga a usar outras alternativas que aliem segurança no abastecimento a preços mais competitivos. Para o presidente da Diamante Geração de Energia, Pedro Litsek, é fundamental ter um percentual de geração térmica para quando não for possível garantir o abastecimento elétrico pela geração hidrelétrica.
“O ideal seria poder dar segurança via hidrelétricas com reservatório, mas os últimos projetos hídricos implantados no Brasil foram a fio d´água, ou seja, não conseguem armazenar energia”, comenta Litsek em entrevista exclusiva ao VDE.
Engenheiro Mecânico formado na PUC-RJ, com mestrado na Universidade de Duke na Carolina do Norte, Litsek tem mais de 20 anos de atuação no setor elétrico, com expertise na estruturação e implantação de projetos de geração de eletricidade no Brasil e em outros países e em negociação e gestão de contratos e ativos de energia. Atualmente, é presidente da Diamante Geração de Energia, gestora do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, considerado o maior complexo termoelétrico a carvão da América do Sul. Localizado em Capivari de Baixo, no sul de Santa Catarina, as margens da BR 101. O complexo é formado por quatro usinas que totalizam uma capacidade instalada de 740 MW e 350 funcionários diretos.
Para ele, as inovações tecnológicas, como as de captura de carbono, têm papel importante para resolver o principal impacto das térmicas com combustível fóssil. Litsek lembra ainda que há térmicas que usam energia nuclear, que não emite CO2. Segundo o executivo, com os Small Modular Reactors (SMRs), a energia nuclear poderá ser uma boa solução para o Sistema Interligado Brasileiro.
Confira a entrevista:
A geração térmica tem tido um papel muito importante para a segurança energética. Mesmo em um futuro mais descarbonizado, como você avalia a transição energética nos próximos anos? Poderemos abrir mão das fontes térmicas?
Atualmente, não temos tecnologia adequada para fazer frente à intermitência das renováveis e que seja independente de condição climática. O ideal seria poder dar segurança via hidrelétricas com reservatório, mas os últimos projetos hídricos implantados no Brasil foram a fio d’água, ou seja, não é possível armazenar energia por meio deles. Então, num país como o Brasil, que tem grande geração renovável, o ideal é ter um percentual de geração vinda de térmicas que permita fazer frente à intermitência sempre que não for possível fazer essa gestão com a energia armazenada nos reservatórios das hidrelétricas.
“É desafiador em um país com pouca armazenagem de gás ter capacidade de suprimento de gás flexível para todas as térmicas que demandarem.”
Pedro Litsek
Presidente da Diamante Geração de EnergiaQual o papel que as inovações tecnológicas, como as de captura de carbono, terão na evolução da geração térmica?
Terão papel muito importante. Se conseguirmos desenvolver tecnologias que permitam evitar que as térmicas com combustível fóssil emitam gases de efeito estufa, teremos resolvido o principal impacto dessas fontes. Lembro também que há térmicas que não emitem gases de efeito estufa, como as usinas que operam com energia nuclear.
Quais outras iniciativas você avalia que trazem inovação para o setor?
Penso que se deve estudar o papel das baterias para o atendimento de ponta. Alguns países têm utilizado essa tecnologia, mas, no caso do Brasil, sua aplicação precisa ser mais estudada. Por exemplo, hoje temos uma situação no país em que grande parte das térmicas está em operação. O saldo de produção de energia armazenada é zero. A bateria tem que ser carregada para gerar energia e, então, em um período de seca, acaba por não ajudar em nada. As baterias fariam sentido se houvesse horas do dia com excesso de geração, em que seriam recarregadas, e horas do dia com geração a menor. Mas são circunstâncias particulares.
E quais são os grandes desafios que a geração térmica enfrenta hoje e enfrentará nos próximos anos?
Certamente a questão ambiental é um grande desafio. O outro desafio é o uso das térmicas para prover energia complementar às renováveis, no que diz respeito ao suprimento de combustíveis. É desafiador em um país com pouca armazenagem de gás ter capacidade de suprimento de gás flexível para todas as térmicas que demandarem.
Nesse sentido, talvez se deva estudar uma geração térmica com alguma inflexibilidade para melhor gerir água nos reservatórios e, ao mesmo tempo, melhor gerenciar os inventários de gás no país.
A energia nuclear, com os SMRs (Small Modular Reactors), poderá ser uma boa solução para o Sistema Interligado Brasileiro. Esses pequenos reatores têm características muito interessantes de acompanhamento da carga que poderiam também ser aplicados e, pelo seu tamanho, podem ser instalados próximos à carga. Além disso, trazem uma vantagem adicional de, ao usar combustível nacional e – dependendo do modelo – produzido pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil), tornar o país independente de fornecimento externo.
A Região Norte poderia considerar os micro reatores como opção de geração (reatores de 1, 2, 5 MW, capazes de fazer acompanhamento de carga). Hoje, em muitas localidades não interligadas, usa-se geração a diesel, que é cara e demanda uma quantidade importante do combustível só para levar até o gerador.
Há algo que possa ser trabalhado junto ao Congresso Nacional, para melhorar o ambiente de negócios?
Certamente a comunicação com os deputados e senadores é importante, para se esclarecerem as vantagens de cada uma das gerações disponíveis. Há deputados e senadores com muito conhecimento do setor, mas outros têm perfil menos especializado e precisam de informação correta e baseada em estudos técnicos.
A Abraget (Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas) tem realizado diversos estudos técnicos que proporcionam informação de qualidade para esse público.